REVOLUÇÃO DAS PEDRAS NO CAIRO
Na terra das pirâmides faraônicas
o vermelho-escarlate tinge o rosto da esfinge.
Acertaram-lhe o que restava
do milenar nariz com paus e pedras
mubarakianas e contra-revolucionárias.
O disfarce pago nega a origem
e escurece a verdadeira face do cruel desenlace.
Na praça Tahrir o caos e os praças traindo a revolução democrática.
Os lombos estalam em fraternas chicotadas
num palco de guerra,
de cavalos,
de camelos,
de tanques,
de foices e
de barricadas.
Ao vivo a vida em ferida viva
geme em vários dias de agonia fotografada.
A fome,
a dor,
o medo
e o cansaço
alimentam a esperança dos destemidos jovens,
dos adultos, dos velhos e das atordoadas crianças.
Num jogo de cena e de cartas marcadas na tela oficial
o podre poder mumificado se aferra a ferro e a fogo ao tão amado cargo.
De fora, a ONU e outras falanges diplomáticas
falam... falam e falham em palavras calculadamente pragmáticas.
O Egito em soluços e preces, arde.
No Nilo de Allah, al jaz ira!
É triste tudo que vejo,
é triste tudo que narro,
porém, mais triste é sentir na pele
o luto que se deposita dia-a-dia em centenas de sarcófagos
no museu a céu aberto da triste cidade do Cairo.