O PELOTÃO DE FUZILAMENTO

A venda que tapa os olhos

O suor que escorre no pescoço

Gatilhos que se armam:

-Chegou a hora,seu moço!

Seu choro não me comove

Suas razões são chinfrins

Refaça à prova dos nove

Calcule o começo do fim

Até que você se deu bem

Ainda chegou à cinco ponto seis

No império Romano a média

Pouco chegava à vinte e seis

Se hoje se chega aos cem

-Há,há ! : ta zombando de mim?

-Querias chegar lá também:

Ruminando tanta bala de gim?

O veneno que foi para os canos

O álcool que te deixava zen

O pó da viagem tão branco

O chá de cogumelo do além

Verdade que não sabias

Onde a doença se instalava

Mas ela veio na agulha

Do pico que te excitava

-Tás com medo? é tarde!

Daqui á pouco : o muro furado

Um corpo que cai como um fardo

Teu sangue na areia ao cair da tarde

Não vai dar tempo de nada

Não vai se despedir dos amigos

Teu fígado vai explodir pela boca

Não dará tempo de perdoar os inimigos

Não vai dar tempo de rezar

Não vai dar tempo de dizer : minha mãe!

-Há,há ! : agora quero vê-lo zombar

Do padre que rezava o sermão

Agora quero ver se é o bom

Na hora da prestação de contas

Não vai adiantar ser um bom ator

Este Juiz nunca se engana

-Vamos:comece a rezar

Vamos:Jesus ainda te perdoa

Quem sabe se na infinita misericórdia

Ele ainda te veja como coisa boa

-Ainda te dou a última chance

De fazer um pedido agora

Só não venha me pedir a vida

Esta vais perder sem demora

-Um copo de água,

Um cigarro de maconha,

Um verso do Neruda,

Ou um beijo na desejada cona?

-Há,há ! :armem-se os gatilhos!

-Há,há ! :mirem o peito como alvo

Lá vai mais um tolo pro inferno

Nenhum desejo vai ser saciado

-Fogo!Fogo...! muito bem...!

Dentro em pouco serás carniça

-Urubus ! Hienas ! Sirvam-se também!

Este não vai sequer para estatística.