Noturno
As luzes estão apagadas
enquanto caminho descalça
atravessando a sala.
Conheço bem este lugar,
visitei-o nas madrugadas muitas vezes,
e parti antes que o sereno da manhã tocasse as flores...
Aquela cadeira, próxima à lareira,
já protagonizou lindas cenas de entrega e comunhão...
Na cozinha, passo a mão por sobre a bancada.
Fome satisfeita em banquetes sensuais
ou deliciosos preparos feitos com esmero
e muita cumplicidade regada a vinho...
No teu quarto, dormes...
Sempre deslizo as mãos sobre os lençóis,
macios e suaves como tua pele
que acaricio com as pontas dos meus dedos.
Percorro tuas linhas. Másculas.
São carícias leves e lentas,
como se, delicadas assim,
pudessem parar o tempo...
Cheiro cada dobra de pele,
onde se escondem as nuances
que te pertencem...
Demoradamente,
para levá-las em minhas narinas.
Cumpridas as três regras de ouro,
caminho novamente
por sobre a grama que beija o orvalho
que já cai, mansinho...
A luminosidade do dia
convida-me a uma viagem sem volta
para dentro da integridade de quem sou...