A bruxa do tempo.

⁠E fez-se a primeira noite

E desde a primeira noite, o frio

E fez-se o arrepio e nascem os sonhos

Em algum momento perdido, o calor

Inventando um novo invento

E veio o rio das horas

E veio a demora

Com o tempo que passa depressa a flutuar

E a folha que cai e que vai-se à toa

Ao arrepio da hora boa

E nasceu assim a lembrança

E o medo do fim

Como receio da noite vindoura

E da dor a lição

Assim fez-se a pressa, a que cessa num momento

Que é coisa a aprender-se depressa

A vida que escoa entre os vãos

Mãos vazias que acenam

O sempre olhar pra trás antes da curva

Até o dia de não nunca mais se ver esse olhar

Assim fez-se a madrugada, a alvorada

O outono que chega

A bruxa do tempo que ri só pra si

E assim fez-se a noite e a escuridão

Tão negra quanto o coração que era

Esperar no portão pelos passos que não mais escuto

E assim se fez a última noite

O longo tempo, que afinal

No final se fez tão curto.

Edson Ricardo Paiva.