Voz que clama...

Ouço o pulsar do coração, elevo as mãos ao céu e sinto a sua vibração, meu grito ecoa ao longe, além desse mundo.

Nas asas da águia, sobrevôo os oceanos, me junto com o sussurro das águas, elas entendem meu clamor.

Sou pedra lapidada pelas mãos do criador, vaso quebrado, por Ele restaurado, em cada linha traçada, escrita em linhas tortas o amor sublime permeia.

Nas encostas, vegetação rasteira, meu pensamento mistura-se com a relva molhada, sou brisa leve, sobrevivo nas flores da madrugada.

Nas canções dos povos, rimo meus versos, nas etnias uno corações, escrevo na entrelinha da vida, experimentei o gosto amargo da solidão do prisioneiro, acompanho os passos do forasteiro, do olhar inocente da criança, extrai para a vida esperança.

Sou instrumento que no impacto derrubou muros, unindo pessoas distantes, minha pele verte sangue dos que morreram sem chance de reagir, sou o choro preso na garganta.

Minha voz clama no deserto, pela paz entre os homens, liberdade de expressão, respeito mútuo entre filhos de um único Deus, Rei absoluto.

Amor na sua essência de vida, justiça e dignidade para todo ser vivente, consciência de suas ações, verdade plena, sem meio termo.

Lanço desafio de viver como as flores, que exalam fragrância pelo ar, perfumam onde passam, deixam rastros marcantes, fixados na alma, onde o tempo não apaga a chama do amor, mesmo sem o sopro de vida, cultivam seu aroma, nas páginas do livro da vida.

Quando o livro for aberto, para ser desvendado por outras gerações, deixe sua marca, pétalas acetinadas, mesmo com os espinhos do caminho, não perdem o brilho e exalam aroma, semeando amor.

Escrito em 10.11.2005

Por Águida Hettwer