SAUDADE DE QUEM NÃO ME LEMBRO O NOME

SAUDADE DE QUEM NÃO ME LEMBRO O NOME

Hoje estranhamente acordei sentindo sua falta.

Infelizmente seu nome não consigo recordar,

porém, me recordo do seu laticínio corpo delgado.

Me lembro claramente da sua melena lisa ao modo desarrumado.

Me olvido também de quando

nós dois a primeira vez nos encontrado tenhamos.

Todavia me recordo: na verdade, tenho em mente

a consciência de muito dialogarmos

toda vez qual nos achávamos pela biblioteca circulando

entre as demais gentes que lá, por várias razões, andavam

também transitando. Sim, a transitar outros seres anônimos.

Quase sempre a procurarmos o encantatório da leitura...

Quase sempre em busca do viajar o mais longe que podíamos...

Quase sempre a desejar sermos trasladados a distintas dimensões:

Indigestas, ignotas, jucundas, simplórias. Não compreensivas!

Quase sempre a vermos se as Bíblias, ao tocar a nuança da nossa

Sensibilidade,

nos poderiam ajudar na melhor compreensão da verídica natureza

do nosso antrópico

Mundo

o qual ama fazer esvair em nós a razão e a generosidade de tudo!

E dialogávamos sobre inúmeros temas.

Realmente temas e coisas que muito variavam. Era o que mais

espanto me causava:

um marxista e uma protestante.

Sim, exatamente. Exatamente duas têmperas híbridas do pensar

dialogando sem quererem se sobreposicionar.

Duas Floras do pensamento que se conhecendo, se afagavam.

Afagando-se: se polenizavam.

Me recordo do seu singelo bonômio sonho.

O sonho de ser enfermeira. Um prosaico sonho apenas.

O sonho cada vez mais prosaicamente insólito de ajudar os

Outros.

O sonho comunal de ver o bem-estar de todos.

Seguramente, agora, muito freqüentemente, um sonho de

Poucos.

Mas o que importa, para mim, é que juntos: tênue ou fortemente

O

Compartilhamos!

Sei bem perfeitamente. Como o sei!

Sei que na ponte da latitude,

por onde caminham a morigeira ganância

tampouco o machado e a foice,

repousa uma diferença incomensurável, por demais grande!

Porém, apesar de não nos amalgamarmos

na

seara das idéias,

sempre nos irmanávamos: irmanávamos ao nos permitir

afinarmo-nos numa interação de circunspeção sincera.

Por isso acredito: como na assimetria do cravo e a rosa,

que na incoerência dos sexos se conchavam;

Então, na mesma medida em que opostos nos harmonizávamos,

com o hábito do tempo, poderíamos nos haver conchavado.

Sim, viajo pra dentro do âmago da mente

e definitivamente não consigo...

Lembro de novo do seu corpo: banhado em mar alvo.

Lembro da feminilidade comum dos seus óculos na cara.

Lembro do azul do jeans da calça e da saia.

Lembro da bolsa retangular de mulher conservadora.

Lembro de tudo do que seja possível fazer me lembrar de você,

Alma Boa.

Só não consigo me lembrar do nome de sua pessoa.

Sim, devo dizer que é isto o que mais me atordoa!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

http://pedrasdapoesia.blog.terra.com.br