Saudade
Hoje alguém bateu a minha porta
Não encontrei ninguém
A cidade parecia ter escurecido
Tudo em bons tons de preto e branco
Cada rua uma ilusão diferente
Entre as árvores ao meu redor
Perdi-me em folhas secas
Que cultuavam minhas lembranças
Seu sorriso estampado nos outdoors
Teu perfume nas vitrines
Rua deserta entre os meus passos calados.
Numa esquina que cruzou meu caminho
Encontrei a tão misteriosa causadora da minha insônia:
Saudade.....
Quando bate, voa junto ao vento sempre retornando em lembranças...
Quando bate some, mas exige entrar.
Domina na espera de dias que passam como anos.
Às vezes engana, se faz tão bonita.
Mas não passa de disfarce da dor universal
Da dor de quem ama, de quem perde, de quem simplesmente espera.
Quem sabe aquela que bateu a minha porta
Faça-me enlouquecer por ela mesma
Faça-me sangrar por mim mesma
Faça-me revirar as sombras por você mesmo
Quem sabe a tão dominadora não se desfaz
E me afoga de uma vez na única certeza que transborda meu ser.
E que eu possa escrever uma saudade
Onde as sombras são as cópias do que nunca se desfez.
Janeiro de 2006