Pressa

Na pressa da viagem, não deste tempo para as despedidas...

Era recém quinta-feira... A quinta feira mais triste que presenciei.

Véspera do ano novo... Tudo arrumado na cozinha, para o leitão com frutas que sabias fazer...

Esqueceste de cancelar o convite para o chá e não avisaste que partirias!

E como a luz do dia, envolvida no manto do crepúsculo, partiste...

No dia seguinte, quando a manhã chegou derramando luz, tua voz não mais se fez ouvir...

E a luz se fez sombras...

Deixaste nos a esperar... Esperar...

Teus livros, cuidadosamente escolhidos, que acalentavam tuas noites antes do sono, ficaram sobre a mesa de cabeceira e na pequena estante próxima à janela de grande vidraça, em teu apartamento...

E tua sala, cujos tapetes, sobre o piso e a parede me encarregaste de escolher, ficou só...

As graciosas almofadas vermelhas, que tanto gostavas e com mãos habilidosas teceste já não tinham a alegria do seu colorido...

Eu não entendo essa pressa!

Sem a tua presença, tua sala ficou tão triste! As flores perderam as cores e a vivacidade de quando estavam contigo...

E nossas casas não gozam hoje da prática intervenção e das mãos experientes, cuidando os mínimos detalhes, com esmero...

Quando foste buscar a impressora nova, que deixaste sobre a mesa, não avisaste que não lerias minhas crônicas, logo impressas!

E não mais contarias das histórias dos livros que lias, sempre com a famosa introdução: “Este é tão lindo!”

...E versavas a história, mais bonita ainda!

E não vais ler o meu livro! Que pena!

Quanta pressa em partir! E dizias que eu é que tinha pressa e queria abarcar o mundo...

Mas não esperaste!

Eu sei que não cuidarás mais das flores da tua sala, pois teu jardim, agora, tem muitas flores! Coloridas, divinas, banhadas de luz... Isso eu sei.

Mas que sem a tua presença, nossas casas ficaram tão tristes...Isso ficaram!

Quanta pressa! Quanta pressa minha querida!

Eliza Fernandes

Eliza Fernandes
Enviado por Eliza Fernandes em 23/02/2006
Reeditado em 01/04/2006
Código do texto: T115419