GOTINHA ITABERINA (COR)

(CORRIGIDO)

GOTINHA ITABERINA

Gotinha de água que cai lá do céu de anil,

Vem cá molha o meu cabelo suado,

Minha tez seca e cansada,

A minha camisa clarinha de cambraia,

A minha calça curta e pesada de algodão.

Eu e toda a meninada,

Deste Curralinho gostoso e levado.

Onde tudo que se fazia, tinha gosto de infância,

O picolé de murici, de salada de frutas, de cajá,

O leite com açúcar mascavo e farinha de milho com biju .

O licor e o doce de jabuticaba, o doce de laranja açucarado,

A pamonha redonda e comprida enrolada e cosida na folha verde de bananeira,

O biscoito de queijo quentinho assado no forno de barro branco,

Alguns carinhosamente em forma de galinha com seus ovos.

O café fumegante artesanalmente moído no “eirão” de aroeira pura,

Enfiado bem no meio da cozinha.

As guloseimas preparadas pelas mãos habilidosas da minha madrinha Nazaré,

Delicias que o paladar escondeu atrás da moita do nunca mais.

De manhã o banho gostoso e frio na águas límpidas no Rio das Pedras

Claras e brilhantes, o Itaberaí,

Que se ajeita guardado na gaveta de nossas lembranças.

De quando em vez desembrulhamos este pacote gostoso,

Onde carinhosamente esta acomodada a nossa saudade.

O jogo de finca, as rodas de pião, as bolas de gude,

A pula-corda, a amarelinha,

O mini bilhar, o pebolinho, o futebol, diversões que ajudava-nos a preencher.

A gostosa vadiagem de nossos dias longos e multicoloridos.

Algumas vezes quebradas pelas presenças de parques, circos, touradas,

Entrelaçando vidas na arte espetacular do bem viver.

A tarde, após admirarmos as peripécias das raias, pipas, aviões,

Todas feitas e manobradas pelo Yucatan, Caramuru e outros,

Cujo nome desaparecem nas nuvens, como faziam seus artefatos,

Parece, rasgando o céu azul, naquele infinito incógnito,

A procura quem sabe de Nosso Criador.

Ai íamos ao Jambeiro, atravessando quintais e pastos verdejantes,

Procurando refrescarmo-nos nas corredeiras límpidas,

Do Rio das Pedras, o rio de nossa infância.

Ainda bem que Deus, em sua sapiência infinita,

Deu-nos mais vidas, afim que pudéssemos repetir no futuro melhorado,

Tudo que já passamos,

Como se beleza dos dias vividos pudessem ser mais belas no porvir.

(Muitas vezes penso que esta idéia de retornar é egoísmo nosso),

Somente com finalidade de estarmos materialmente próximos

De tudo que gostamos e tememos perder.

Ah meu Itaberaí, como as touradas que fazíamos com a bezerrada no curral do

Joaquim Lúcio, o jogo de Bicho ás 17h00min horas no bar do Zé Pereira,

A sirene do cinema do Buzico acionada insistentemente pelo Dito Monteiro,

O pique - esconde antes do filme,

Assistir as apostas inexplicáveis dos mais velhos,

Nas mesas de bilhar no Bar do Petrônio,

Na saída dar uma flertada inocente na doce loira, sua filha Viviane,

(Exemplo vivo de amor platônico, arquivado num cantinho dos meus ais.)

Foi-se a vida alegre de uma felicidade, que já está lá atrás.

Ainda bem que eu nasci no lugar certinho onde o coração da gente

Dá-nos motivação por existir.

Como éramos felizes e sabíamos,

Como eu te amo meu Itaberaí,

Pequeno torrão de minha imorredoura e grande saudade.

Goiânia, 27.11.98.

J U R I N H A

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 11/09/2008
Reeditado em 18/03/2010
Código do texto: T1172385
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