Vida cigana

Ontem na calada da noite

Fui inesperadamente arrebatado

Por uma aspiração inexplicável

De viver feito os ciganos

Que de modo desavisado

Tomavam as ruas de minha cidade

Com suas pontes de ouro

Embora repousassem sobre o couro

Expunham os dentes reluzentes em sorrisos largos

E sobre os chapéus a aura da felicidade.

De viver que nem ciganos

Iguais àqueles que em caravanas

Visitavam a minha cidade

Na minha idade de criança

E com suas espontaneidades incontidas

Arrebatavam as pessoas e as praças

Que a mim me deixavam a boca aberta

E os coronéis morrendo de inveja

- eu que vivia a paz da inocência –

Tamanha era a felicidade espargida

De seus semblantes fartos devida

Sem sequer cogitar de recompensa

Pela simplicidade nos gestos expressa

Montados em suas mulas baias

Apeavam em todas as casas

Negociando seus enormes tachos de cobre

E de repente iam sem deixar seus endereços

E riam da peleja e do apreço

Que os citadinos têm à perpetuidade dos objetos

Embora continuem pobres

De liberdade de enlace e de afeto.

Vontade de ter vida de ciganos...

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 01/03/2006
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