A CARTA

Já estive em seu mundo antes, como as margens de um rio manso e já em seu peito havia acordes musicais , enquanto que em mim ... cores emolduradas .

E agora te encontro desavisado , sozinho em ti mesmo . Sinto ventos de solidão no seu violão percorrendo distâncias estéreis, buscando o amor eternizado.

Tantos olhares você teve para mim, e com tantos outros você me teve ! Ao se despedir, junto a ti por um segundo a mais você me retia, e eu , também, por minha vez, em meu abraço te prendia ! E um dia , sem querer, ou a minha revelia, um canto de minha boca roçou a tua , dando a entender o que a palavra não dizia !

Eu que tanto tempo te esperei ....

Penso se cheguei fora de hora ...se cheguei na hora esquecida ... ou nos ventos do desafio .

Em meus seios guardei flores retardatárias ofertadas por todos os amantes, trouxe afagos e melancolias crepusculares , um olhar lúcido e o desejo na alma entranhado, trouxe canções colhidas nas asas dos pássaros imigrantes , silêncios noturnos e murmúrios insones .

Não há, agora, horas que me bastem ao teu lado, nem versos ritmados com sua melodia ou desculpas para a saudade desmedida.

Você me pergunta: de onde eu vim?

- Não sei ...não me lembro mais ! E você ?

Maria Helena de Melo Rodrigues
Enviado por Maria Helena de Melo Rodrigues em 23/09/2008
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