A morte da saudade

O quarto estava na penumbra.

Ainda não se habituara a adormecer totalmente às escuras e por isso mesmo mantinha um pequeno candeeiro de luz fraca sempre aceso. Não se destinava a iluminar, era apenas para a sossegar.

Acabara de se deitar.

De repente o telefone toca. O ruído sinistro e impessoal soou estridente no quarto, ferindo os tímpanos, como se penetrasse o seu cérebro que se preparava para descansar.

Quem seria?

Olhou para o relógio digital.

Não era ainda muito tarde!

Mas o seu coração, bateu mais forte…

Lentamente, levantou o auscultador…

- Está lá… sim? … - Disse na sua voz meiga e natural.

- Olá amor!!!

Aquela voz… oh, aquela voz. Tinha o condão de quase a fazer flutuar sempre que a ouvia, aumentando o seu ritmo cardíaco. E ultimamente apenas a escutava por aquele estranho aparelho. Como ansiava por ouvir novamente aquela “sua” voz ao vivo, sem distorções eléctricas e ruídos de fundo.

- Olá querido, que surpresa! Quando voltas? – Disse ansiosa.

- Tenho uma notícia para ti...

- O que é?… – disse ansiosa.

- Sabes quem morreu há segundos?

- Não… – Disse estranhando e já em sobressalto. Pensou rapidamente em todos os seus entes queridos, mas desconhecia que alguém estivesse doente. – quem?... Disse amargurada.

- A saudade, meu amor, a saudade! Morreu feliz, quando atendeste!...