SORTILÉGIOS DO FEL

Me pego, ás vezes, divagando

Preso em teias de pensamento

Que me trazem uma imagem, uma lembrança.

Qual lembrança? A lembrança de tardes nos Barris.

Tardes que me remetem a ti.

Esta impertinente fonte de slides do Eu sentimental,

Que é a tua expressão óptica,

Não vaza de minha memória:

Por mais que se faça morosa em sua ausência,

Sempre ancora no trapiche de cores

Que revestem a filha do meu recente outrora.

Embora goste de ter o córrego da tua matéria fluindo em mim,

Almejo todos os dias que a mesma possa encontrar um estuário:

O qual, ao dissipar a água doce da tua melanina impressa

Em minha retina, sempre suscetível á voz de um feixe de luz

Passional,

Livrará minha mente da dor de não poder contentá-la.

Sim, admito que tu és o estio que gostaria de vivenciar

Eternamente.

No entanto, sei que a concreção de tal sonho se faz impossível.

Então prefiro que ele, ainda que paulatinamente, se desvaneça,

Esmaeça-se, sucumba e vire pó.

Com efeito, tal homicídio me ajudará a abrir a janela para

Novos horizontes, além de jogar tuas cinzas no mar de dissabores

Felizes, os quais, em meu ser, freqüentemente, se acumulam aos

Montes. Na verdade, amontoam-se ao bel-sabor da caudalosa

Soturnidade: soturnidade esta que deita em mim como perpétua Chaga desabrida, aberta e ampla suntuosidade.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 30/11/2008
Código do texto: T1311058
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