Saudade boêmia
Boêmia, onde estás?
Onde está a luz da madrugada,
os beijos da mulher amada
os lençóis suados?
Me responda velho amigo
onde mora o perigo?
Na consciência embriagada
ou nos portões da madrugada?
Me diga camarada
se a lua ainda é namorada
dos bêbados e poetas
das meretrizes e profetas.
Me confesse meu parceiro
quem ilumina os terreiros?
os sonhos lúbricos dos pedintes
ou o sol das manhãs seguintes?
Me fale companheiro
onde estão as serenatas
as violas enluaradas
que há muito estão abafadas.
Me confesse aprendiz
e velho camarada
das saudades sufocadas
e o sentido das novas toadas.
Onde estão meus bêbados parceiros
em que última saideira se afogaram
quero-os ainda para juntos
chorarmos as velhas e novas emboladas.
Rio de Janeiro, verão de 1983