OS MEUS VELHOS

Tenho saudade dos meus tempos de criança

Havia velhos à minha volta, às mancheias

Havia sinos, muito tango e muita dança

Tínhamos fadas e até dinheiro nas meias.

Esses são tempos que já vão lá bem distante

Os nossos velhos sumiram no pó da estrada

Olho “pra” frente, à procura de um mirante

Olho “pra” trás, e aí não vejo mais nada.

Papai Noel ? Esse chegava em dezembro !

Espera longa, que durava o ano inteiro

Mas não falhava, se eu ainda bem me lembro

E, logo após, vinha o mês de janeiro.

Melhor de tudo era ter velhos por perto

Um vô aqui, a vó ali, tios não faltavam

A nossa vida nunca era um deserto

Qualquer perigo, todos eles já saltavam.

Preocupações, havia muitas sim senhor

Uma pandorga, c’o rabo mal amarrado

Perder “bolitas” causava grande pavor

Melhor treinar, para evitar jogar errado.

E o coelhinho, da Páscoa, tão serelepe

Vinha escondido, sem nunca à porta bater

Era bem rápido, dizem que vinha de quepe

Mas chocolate, sempre tinha “pra” comer.

E os nossos velhos, que foram c’o pó da estrada

A tudo isso, eles olhavam com leveza

Nos encantavam, dando uma grande risada

Eles se foram, e isso é se chama... tristeza.

Os nosso velhos, ah que pena, não “tão” mais

Foram seguindo o velho rumo, lança em riste

Choro por eles, que eram os meus ancestrais

Choro por mim, que aqui fiquei, saudoso e triste.

A nossa vida é uma sucessão de perdas

Viver a vida é um “problema” muito sério

Isso nos prende, como se amarrasem cerdas

VEJO MEU VELHOS, QUANDO VOU AO CEMITÉRIO.