VELHO AMIGO

Ele era meu amigo,
Contei-lhe confidências;
Chorei em sua presença;
Ri de mim mesma com ele.

Na sua frente vesti-me
E despi-me tantas vezes;
Ele conheceu minha beleza
E viu transformar-me no que sou.
 
Com ele participei da vida;
De bons e maus momentos;
Da angustia de não ter saída;
Falei dos meus tormentos.
 
Não queria uma nova moda;
Mostrou-me que estava errada.
Ensinou-me que elegância
É ser também ousada.
 
Brigamos, fizemos as pazes,
Como fazem os amantes.
Dali a alguns instantes
Mostrou-me sua razão.
 
Era tal o troca-troca,
Mas ele não se importava.
Imaginava-o rindo...
Creio até que  gostava.
 
Embora nada falasse
E não possuísse coração,
Deixei-o muitas vezes deslumbrado
Com minha bela visão.
 
Viu-me vestida de seda;
Despida na intimidade.
Viu-me cheia de orgulho;
Conheceu minha simplicidade.

Confiável testemunha
De minhas fases de vida.
Viu-me na fase de outono;
Viu-me na fase florida.
 
Acompanhou-me na jornada
Calado, sem nada dizer;
Mas mostrou-me do seu jeito
Aquilo que eu não queria ver.
 
Fiz-lhe esta homenagem
Como gesto de gratidão;
Embora inanimado
Conquistou meu coração.
 
Por todos estes motivos
Senti sua partida;
Sou culpada- confesso-
Fui desastrada, distraída.
 
Talvez estivesse comigo
Se o segurasse com firmeza.
Ele durou tanto tempo
Sem perder a realeza.
 
Mas enfim foi para sempre;
Sua hora havia chegado.
Alguém juntará seus cacos
E ele será reciclado.
 
Na minha parede vazia
Deixou apenas os pregos;
Quem vai dizer-me como estou
Com os mesmos olhos sinceros?
 
Agora me resta seguir
O seu conselho e bom senso;
Não importa a roupa que vestir,
Aos detalhes estarei atenta.
 
Sempre que entro em meu close
Lembro do amigo velho.
Naquela parede vazia
Falta-me um espelho.
 

 
 
 
 


Célia poetisa
Enviado por Célia poetisa em 27/04/2009
Reeditado em 09/05/2010
Código do texto: T1563538
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