CONFRONTO
Quando os tempos deixarem de parar
E a vida sorrir pelo estreito do rio
Vamos encontrar centenas de folhas amareladas
Que foram deixadas ao léu.
Não precisaremos mais apagar da memória
Os momentos que nos fizeram voltar
Atrás de decisões mal-entendidas
Porque deixamos de pensar em nós mesmos
E começamos a refletir como o outro está
Se realmente ele tem melhorado de atitude
E tem recebido a devida atenção.
Quando as nuvens passarem em branco
E correrem pelo céu no fim da tarde
Sentiremos então o calafrio da dúvida
Que nos assedia toda hora
E nos deixa pasmados com tanta dificuldade.
Para onde vão nossos esforços?
O que é feito de nossos ideais?
Vivenciamos cenas desarticuladas pelas ruas
E o abandono e o descaso a se propagarem.
Na esquina um menino chora sua tristeza
De ser mais um que não pode prosseguir.
E nada mais podemos esperar, nem mesmo
Um sorriso, um abraço, um aperto de mãos
A secura do momento nos faz calar
A dor da saudade nos sufoca e constrange
O grito dos inocentes se propaga afora
E continuamos inertes e alienados...
Como que em sono profundo
Sem ilusão, nem alegria, nem entusiasmo
Apenas viventes perdidos como ovelhas desgarradas
Sem lutas, sem tréguas, sem vitórias...
Somente imagens de folhas ao vento...
São Paulo, 4 de março de 2008.