Depois

Antes do primeiro fio de escuridão estuprar meu dia e criar-me a noite.

Antes da primeira dose no gargalo, essa foice azeda dos meus dias tristes,

Antes dessa febre de saudade das coisas que não foram e não serão mais,

Antes do primeiro papo, da primeira lembrança,

Antes do primeiro passo torto, da primeira chamada perdida,

Antes de Caetano, Nieztchie e Renato brotarem a boca,

Antes mesmo de o tempo correr...

Antes de perder a identidade e dos sapatos me levarem por aí, por esta corda bamba fina que é a vida,

Antes de encontrar-me tão só outra vez,

Antes mesmo da lua (essa puta voyeur das minhas dores!)

Antes da amora, do mel, da lua,

Antes dos tics e tempos jogados na rua,

Antes de a garota enjoada voltar na noite e levar a razão, o equilíbrio e as preces pra Deus...

Antes das palavras rejeitadas pelos cavalos adestrados da boemia nortista,

Antes do suor das noites mal dormidas e da insônia...

Antes de pensar na minha morte, outra vez,

Pensei em Ti e senti saudades,

Nada mais.