PAIZINHO PARTINDO...+

Onde foi parar aquele homem robusto de bigode levantado?

Moreno, de olhar charmoso, lábios grossos e um sorriso garboso?

Fito-o agora, e vejo um ser em sofrimento, boca ressecada e olhos embaçados

Cabelos esbranquiçados, mãos frias, andar arrastado e temeroso.

Esse homem é o meu pai, meu herói que agora passa por provas.

Prova de paciência, de resistência à dor, prova de fé e muito amor.

A doença zomba dele, brinca com suas pernas bambas, que um dia foram molas.

Mas ele resiste, não reclama, olha além do infinito escondendo a sua dor.

Paizinho quer continuar por aqui, diz que logo voltará a andar firme.

Ensaia um passo, cai e já não levanta sozinho, mas braços rápidos o colocam deitado.

Encosto a cabeça em suas pernas, peço que fale da mocidade, e ele não resiste.

Conta suas lendas, seus causos e histórias de um rapaz tímido, mas levado.

Disse em meia voz que aos três meses de idade, perdeu a sua querida mãe.

Cabocla mirrada, moradora das matas do Pará, que teve tuberculose muito jovem.

Sem recursos médicos, foi mandada para a capital , pensando ser febre terçã.

Deixou-o em uma fazenda aos cuidados de uma conhecida cujo nome é dona Dóris.

Aquela jovem cheia de sonhos, não mais retornou ao lar, dia-dia definhava...

vindo a falecer em Belém, sem rever o seu filho único que ficou sozinho no mundo.

O seu pai, não pode cria-lo, deu em definitivo para a senhora adota-lo.

O menino então cresceu sabendo a sua história, quase não conversava, vivia o tempo mudo.

Mas um belo dia a vontade de viajar o incomodou,

juntou tudo o que tinha, disse adeus aos amigos e a quem o adotou.

Seguiu para Altamira só com a coragem no peito e sem conhecer ninguém,

Benedito André dos Santos,procurava trabalho e um grande amor também.

Encontrou trabalho e esposa, casou com a Elizabeth

Que não era a rainha da Inglaterra, mas sim, a sua verbena

Ela o fez feliz em tudo e lhe deu quatro morenas

E foi sua companheira por longos anos, é certo.

Antes de encerrar a poesia, meu paizinho “viajou”.

Foi de uma maneira bela, a “travessia” nem temeu.

Conversou, abençoou, deu um beijo e embarcou.

Agora descansa em paz, nos braços do Senhor Deus.

Obs: Meu pai morreu no dia 23 de agosto de 2009, mas antes de partir, viu os céus abertos e testemunhou isso à todos os que se encontravam ao seu lado.