PALCO DE PAPEL


Cansei das expectativas
no inexato momento
onde dividida com a partida,
soprou vento do desalento.

Sons doridos, ressentidos...
No desencanto do tempo,
germina lenta e magoada
gota triste de orvalho,
na visão penitente
da alma em dor ilhada
nos braços da madrugada.

Dou adeus às vãs esperanças,
cansei dos equívocos,
desvios, retornos e fugas,
dos esquivos olhares reticentes
que consomem os fugidios
sonhos desbotados.

Da solidão sempre presente
encarcerando um mortal
silêncio e afunilando
o espaço existente,
em fina camada de indiferença,
lâmina de espada afiada
que o coração em pedaços retalha.

Despeço as ilusões que mascaram
a face fria da realidade.
Deixo a ferida aberta,
paisagem real e concreta
que o veneno do desamor,
uma parte minha amortalhou.

Deleite de morte,
triste sorte de quem ama e sofre,
parte que debandou da vida...
A outra metade que me restou,
registra no livro da saudade
suas verdades.

A lágrima que escorre no rosto
tem o seu gosto...
Desliza leve, livre... tons mutantes,
trazendo consigo conforto.

As palavras sinceras
que na agonia foram concebidas,
criam asas coloridas,
cortejam a lua que fulgura no céu
e transformam-se
em estrelas cintilantes
neste meu palco de papel...



22/05/2006

Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 25/10/2009
Código do texto: T1886193