Tão vivo... (você)

Não sei que horas são,

mas as sombras estão mais inclinadas do que deveriam;

as pessoas fecham seus rostos e seguem.

Não sei para onde seguir,

não mais localizo a única direção

que cabia às minhas limitações.

Parece uma falta de tempo,

a falta do tempo exato,

mas tempos e horas e gentes e sombras se suprem:

o mesmo não se dá com você.

Você, eu havia esquecido seu rosto

– seu exato rosto, não cópias ruins

que de mim exigem impossível adaptação.

Sim, eu me esqueci, mas algo aconteceu;

algo sempre acontece entre prantos e risos.

Eu vi você em meu sonho.

Você estava tão vivo

e o mundo tão luminoso

que nada poderia nos separar.

Eu disse o que jamais pude dizer no mundo real.

Ignorei que o tempo é curto em qualquer mundo,

sobretudo no dos amantes.

Você estava sorrindo e caminhávamos sem sentir os pés.

Cenas do passado e do futuro se misturavam

e não interferiam,

e você, você estava tão forte, vivo e real

que não pude deixar de abraçar você,

pensando como que dizendo:

“Abrace-me como se fosse o fim;

ensine-me a abraçar

e a ser mais do que isso

que vejo no espelho...

Tire de minha alma o escuro das noites

e esta sensação de que há sonhos impossíveis!...”

O mundo então brilhou, embora eu não visse o brilho;

senti que tudo brilhou manso e vigoroso ao mesmo tempo –

em algum lugar; de algum modo insinuou-se

a Perfeição.

Foi tão curto, pensei haver lhe retido para sempre...

Eu não havia percebido

que você se dissipara enquanto eu chorava

na surreal felicidade

que por um momento julguei substancial.

Acordei sem saber que horas eram.

As sombras estavam mais inclinadas do que deveriam.

Havia uma ausência de tempo pairando no ar

e sempre haverá.

Algo sempre acontece.

Algo sempre acontece

entre risos e prantos...