Memórias De Um Andarilho!
Eu era todo choro e lamúrias;
Nau vazia aos ventos e marés;
Pássaro preso pelas asas e pés
Em noites desluadas e profundas.
Eu era todo lodo e penumbra;
Um pedaço de astro destacado.
Eu era mais um riacho parado
Num dia tristonho de chuva.
Eu tinha uma viola e cavalo;
Quintais jardinados de lírios;
Um cão preguiçoso, galo índio,
Capado e um tanto mais de gado.
Eu morava próximo de um lago.
Não. Morava próximo de um rio
Que semi-circundava meu sítio.
Eu tinha uma rede e um barco.
Eu tinha uma farta plantação.
Pomares ricos em risos e em flor.
Quem me chamava de pai e “amor”;
Quem me acolhia no coração.
Quis alçar vôo. Saí pelo mundo,
Sereno e frio como a madrugada.
Eu que tinha um mundo e de tudo
Hoje andarilho e não tenho nada.