CHOVE NA MINHA INFÂNCIA

Uma chuva miudinha cai sobre a noite

que nasceu cheia de cinzentos

a prolongar-se pelo rio a fora,

no seu caminho para o porto de escalada.

A lua está encoberta e as nuvens

não cessam a chuva que vai caindo sem parar

isto durante o dia todo, o que me deixou

com um certo tom nostálgico e saudosista.

Recordo meu tempo de infância banhando-me

neste mesmo rio que na altura pululava de peixe

e crustáceos que nós apanhávamos movendo

os pés na lama para eles saírem à nossa vista.

Belos tempos em que a chuva era bem-vinda

para nos acompanhar nas nossas brincadeiras

de criança, sempre pronta a inventar mil mundos

onde reinava a horizonte o arco-íris do nosso riso.

Hoje tudo é tão assim e sem graça, nada é puro

o suficiente para voltarmos à nossa juventude

perdida por entre o relógio imparável do tempo

que tem suas medidas bem concretas e enfadonhas.

Olho pela vidraça… rios de água escorrem por ela

abaixo e passando a mão para limpar a humidade

paro a observar que ainda chove a bem chover

e que a minha infância ficou perdida nalgum mar.

Jorge Humberto

23/02/10

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 23/02/2010
Código do texto: T2103572
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