Silêncio

Não te vires quando fores,

E quando vieres,

Cala-te ao meu silêncio,

Ao chegado movimento da primavera,

Na haste da flor,

Pela arte o amor,

Não te vires quando vieres,

E por onde fores,

Contemple nas flores

Os matizes que não tenho.

Não te cales ao soluço,

Lembra-te da cascata

A voz da mata

A pausa que relata

Na mágoa que fiquei.

Não fales nunca do ontem

Da sepultura crivada de doces

Neste presente que te faço

Um verso, pequeno espaço

Vôo latente da ave sem rumo.

Já não é o que não fui,

Já não sou o tanto que fostes.

Se fomos um sonho... Acordamos,

Se somos a vida... Já não vivemos.

Não te vires pelo nada,

Deixe que calados no imenso silêncio

Descobriremos as invalidades

De vidas pelas vidas nas

Efêmeras cortes das realidades

Que nos buscam dia a dia.