TEM UMA DOR NO POEMA...

Meu pai, quando morreu naquele dia,

morreu apenas parte dele.

Do inteiro que ele era,

grande parte foi perdendo pela vida...

Tornou-se triste e morreu um tanto dele.

Por mais que se fizesse,

não lhe chegava a alegria,

nada lhe era bom que o contentasse...

Depois de perder o entusiasmo resta pouco.

Resta nada se não quiser se erguer e seguir...

O dia e noite misturam-se, tornam um escuro só.

Depois é o coração, que bate, bate não sabe por quê.

Se não lhe escapa um sorriso por quase nada,

É porque quase nada lhe sobra na verdade.

Um mundo entre a cabeça e os pés da cama,

Mundo não é, nem cama. É prisão de um ser livre.

Meu pai que não sorria nem chorava,

porque nada mais lhe tocava de verdade.

Tudo fizemos. Eram médicos de corpo, de mente

e de alma. E remédios e remédios que não remediavam.

Deve ser a tristeza um vício

que facilmente se torna dependente.

O caminho mais curto que há é a falta

de desejos e a ausência de sonhos reais ou irreais.

Meu pai foi morrendo pouco a pouco

pelo caminho. Naquele dia em que a

vida de fato lhe deixou, ele não era mais ele,

era, na verdade, um sombra fraca do que foi.

(Meu pai morreu de enfisema pulmonar

mais depressão em dezembro último).

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 14/06/2010
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