RUA PERDIDA DA MINHA INFÂNCIA


JL- A rua da minha infância era de barro,
depois, calçaram-na com paralelepípedos;
o futuro, porém, poupou-me de ver a tristeza do asfalto.

Hilde – A minha rua era à beira do rio que ficava
sempre inundada a cada agosto que chegava.
Também era de terra por onde eu brincava descalço.

JL - Nela joguei bola,
sentei-me no meio-fio,
conversei com os amigos
e vi as moças,
com suas mini-saias,
descerem dos bondes.

Hilde – Eu morava no interior de SC e jogava bola de meia
com a gurizada. Tinha a minha ‘tiurma’ que se chamava ‘ZP’
ou Zona Perigosa. Lá não tinha bonde o que passava era trem.
Adorava ver as mini-saias plissadas quando eram pelo vento levantadas.

JL- Eram tempos antigos,
de andar sem lenço
e sem documento,
de ver a banda passar,
de zumbidos de besouros ingleses,
de estrondos de pedras rolantes
e de bombas incendiárias
atiradas sobre camponeses,
de descobrir a praia
debaixo das pedras,
de desfilar pela avenida,
de braços dados,
aos milhares,
exigindo o impossível:

Hilde – Também curti a banda de Chico Buarque.
O biquíni de Leila Diniz que via pelas revistas.
Saraus dançantes nas tardes de domingo.
Pescarias, caçadas e uma vida de aventuras.
O homem chegando à lua e todo naquele papo de
que tudo era mentira. As primeiras imagens pela TV,
em preto e branco. O tiro que matou o Kennedy.
E depois corri da polícia nas passeatas na Bahia.
O meu estágio como juvenil do Flamengo no RJ.
E a paixão pelos livros de Jorge Amado e a cidade
de Salvador com suas lindas praias e belas mulatas,
comidas de picante culinária.

JL - O amor em vez da guerra.
Por ela assoviei nas madrugadas,
meio de porre,
voltando dos bailes,
nos quais, por não saber dançar,
sempre dançava,
terminando a noite sozinho.

Hilde - Ai dei uma guinada... Comecei a pegar
no pesado. Fui trabalhar na Universidade.
A ler bons livros clássicos e a ouvir os ensaios
da orquestra sinfônica da UFBa. Fins de semana de
muitos passeios, futebol e praia. Cheguei até a trabalhar
em palácios como assessor de governador.

JL - A rua perdida da minha infância,
apesar de nela não mais morar,
continua sendo o endereço
de minhas melhores lembranças.

Hilde – Àquela rua que o rio beirava a nossa casa...
Onde uma vez o vento e um raio destelhou tudo...
Ainda me trazem saudades... Mesmo tendo passado
por grandes dificuldades.

Dueto; -JL Semeador e Hildebrando Menezes
Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 08/07/2010
Reeditado em 18/02/2013
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