Apenas

Queria ser essa gota de chuva imperceptível

e cair bem perto de você

Ver seus olhos negros perder a esperança no sol

Queria ser esse som surdo e abafado

de chuva sobre o telhado

E ninar seu sono, como as cantigas

de infância, como lendas narradas por sussurros

E, ser o trovão ameaçador a lhe bramar graves verdades

E ser a eletricidade capaz colocar-lhe nos trilhos da razão

Mas não posso.

O meu abstrato é infelizmente concreto

Corruptivelmente arraigado ao corpo

E insólito pois não tem esperanças

Não verei mais seus olhos negros

profundos, não me recordarei de suas tristezas

e alegrias

Tenho que devotar-lhe a indiferença e o esquecimento

E continuar meu caminho até a morte.

Quem sabe depois de morta, eu vá renascer perto de você

E ser sua amiga, companheira ou mesmo conhecida

Ser sua cerca, seu cão, sua chuva ou lágrima

Mas não será mais eu,

será apenas transcendência..

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/01/2011
Código do texto: T2733322
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