AQUELE LUGAR
À sombra daquela árvore sempre descansei,
Sempre encontrei velhos amigos.
Crianças a correr por toda a parte animavam a tarde.
Lá as mulheres desfilavam as suas belezas,
Deixando-nos cada vez mais enamorados por elas,
E de uma doce paixão juvenil floresceu o maior amor...
Foi lá que vivenciei minha infância e minha adolescência,
Foi lá que conheci o real valor de uma amizade,
Não só de uma, mas de uma irmandade de amigos,
Que imagina eu, em minha tenra inocência, que seria eterna...
Era lá que nos libertávamos de toda maldade,
Era lá que debatíamos sobre a tristeza do mundo,
Era lá que por alguns instantes esquecíamos dessa tristeza que nos invade,
Desse vazio que nos consome, dessa dor que nunca passa...
Foi naquele lugar que comemorei a chegada de minha primeira filha,
E foi justamente naquele lugar que chorei a morte de minha mãe,
Mas também foi naquele lugar que meu filho me ensinou a voltar a sonhar...
Um certo dia, tudo passou a mudar,
Os falsos amigos se foram, os verdadeiros amigos também,
Até mesmo os irmãos partiram para longe, para uma terra distante...
Daquele lugar pouca coisa restou,
Mas toda vez que um irmão chegava de viagem
Estávamos nós a descansar à sombra daquela árvore
E a comemorar datas incomemoráveis...
Mas aos poucos aquele lugar foi perdendo o encanto,
E de todo vazio que absorveu de nós
Também foi se tornando um lugar vazio.
Estrangeiros tentaram se apossar da velha árvore,
Tentaram roubar o seu oxigênio com nuvens negras de fumaça,
Mas ela resistiu bravamente.
Alguns viajaram, outros sairam para trabalhar
E outros formaram suas famílias,
E o lugar foi perdendo a sua magia,
E a velha árvore já estava cansada...
Outra mãe precisou partir, e mais lágrimas foram derramadas naquele local,
E as lágrimas que ali foram derramadas por longos anos
Fizeram com que a velha árvore perdesse a vida
E ao chão fosse derrubada.
Hoje, quem passa por lá não reconhece aquele lugar
Que um dia já foi palco de tanta alegria,
Mas que agora habita tanta tristeza...