MORTANDADE
Um vulto negro-cinzento encobre a face azul do dia
e uma explosão de sangue pinta a noite cor-derosa.
Tão logo foge o rosa de mansinho...
Agora, sim; é noite negra e as estrelas vivem...
E a lua vem chegando. Em meio a tanta poesia
vejo Beethoven - agora Strauss que na pequena sala
ergue a batuta, a Sexta Sinfonia - a Valsa do Adeus...
E, retrocedendo a um passado de calor, vida e amores
lembro-me de minha mãe quando arrumava a nossa casa.
É doce recordar... Atirava ao chão areia de cor alvo-cristal
e colocava folhas de pitanga-cheirosa ao jarro...
Naquele instante na Igreja Matriz - seis horas...
O surrado alto-falante gemia e cantava a Ave-maria...
E eu envolvente àquela manifestação que vinha dos céus
e a fé calorosa e pura que tinha minha querida mãe,
enchia o coração de felicidades - sorria e cantava...
As meninas - minhas irmãs, doces infantis crianças...
Meus irmãos e eu, todos ainda juntos e amando à nossa mãe,
despreocupados nada pensávamos de ambição e de maldades.
Hoje, em uma tarde que morre bem diferente em meu ser,
volvo ao passado, cobrando à vida o que era meu - adeus...