MORTANDADE

Um vulto negro-cinzento encobre a face azul do dia

e uma explosão de sangue pinta a noite cor-derosa.

Tão logo foge o rosa de mansinho...

Agora, sim; é noite negra e as estrelas vivem...

E a lua vem chegando. Em meio a tanta poesia

vejo Beethoven - agora Strauss que na pequena sala

ergue a batuta, a Sexta Sinfonia - a Valsa do Adeus...

E, retrocedendo a um passado de calor, vida e amores

lembro-me de minha mãe quando arrumava a nossa casa.

É doce recordar... Atirava ao chão areia de cor alvo-cristal

e colocava folhas de pitanga-cheirosa ao jarro...

Naquele instante na Igreja Matriz - seis horas...

O surrado alto-falante gemia e cantava a Ave-maria...

E eu envolvente àquela manifestação que vinha dos céus

e a fé calorosa e pura que tinha minha querida mãe,

enchia o coração de felicidades - sorria e cantava...

As meninas - minhas irmãs, doces infantis crianças...

Meus irmãos e eu, todos ainda juntos e amando à nossa mãe,

despreocupados nada pensávamos de ambição e de maldades.

Hoje, em uma tarde que morre bem diferente em meu ser,

volvo ao passado, cobrando à vida o que era meu - adeus...

evangelista da silva
Enviado por evangelista da silva em 04/03/2011
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