quando escrevo sem (te) escrever

(apresentando O Transversal "Ao som dos Mares e Marés")

E quando escrevo sem escrever,

A memória sossega das procuras,

E estas, descansadas, descansam

De tantas as dores.

Como rochas batidas pela força das ondas,

Do mar furioso, ou apenas banhadas,

Mas sempre, sempre a memória,

Memória das saudades que ficaram

A boiar como gaivotas, nas correntes,

Que tudo levam,

Até as memórias desassossegadas

Que agora canto.

Quando escrevo sem escrever, ou descrever,

O beijo roubado num areal atlântico

Algures, numa tarde noite,

Imaginado nos olhares antes colados

No adormecer do sol, nos confins

Do horizonte.

Descanso me então da memória,

E no sonho tudo construo, costuro,

E na memória das saudades,

Escrevo sem te escrever,

Apenas,

Apenas te olho…