QUANDO VEJO UMA CASA ABANDONADA

Nestas décimas quisemos prestar uma homenagem ao poeta barroco e diplomata português (embora nascido em Santos - SP), Alexande de Gusmão (séc. XVIII) e ao rei do Cordel no Brasil, Leandro Gomes de Barros, paraibano de Pombal.

Passei ontem na frente do sobrado

Carcomido do tempo e da saudade

Se brilhou antes na sociedade

Abrigando um senhor equilibrado

Porém hoje é triste o seu estado

A parede está desconchavada

E caiu uma parte da amurada

Não há vozes mostrando que há vida

E eu fico com a alma tão sentida

Quando vejo uma casa abandonada

Quando vejo uma casa abandonada

A gramínea sem ter um jardineiro

Dá-me dó em olhar pro pardieiro

Ao pensar que ali já foi morada

Da família, que à tarde na calçada

Se juntava pra ler a poesia

De Leandro de Barros. A alegria

Traduzia a parede em suas cores

Hoje só representa as tristes dores

Do defunto que nesse tempo ria

É barroca a sua arquitetura

Da escola Alexandre de Gusmão

A saudade que vem desde então

Deixa n'alma um quê de amargura

Ah, meu Deus, pois lembrar é pena dura

De uma vida que não tenho vivido

Mas eu sei que mulher, filho e marido

Compuseram essa casa afortunada

Quando eu vejo uma casa abandonada

Tenho medo do tempo enfurecido