...NAU ll (o sopro final)...

... Negro vento a flor semeia

a rosa torta da alma acesa

toca o vento com sonora alegria

acaricia a tez com tortas linhas

crepusculando nos faróis da imensidão

corta o mar a nau turbamulta

morre o sono no albor da aurora

velhos sonhos a bramir acordes

negro vento a alma soterra

cortam meu corpo as águas da memória

ficam âncoras nos ciprestes

minha quimera entorpecida e revoltosa

rasga o vago céu que acoberta-me a pele

velho corvo indigente e opulento

rasga o silêncio ficcionista e abutre

adentrando em Minh ‘alma

como um sonoro e palpitante canto ecumênico

nau de utopias vociferadas e feridas

mar a adejar velhos sonhos

oh! Lesa ave, abutre infiel

corta o bramido da ilusão sem par

o sono trai-me a alma

no elevado cume do mar azul

óh! Negro vento na negra noite

na noite negra da umbral saudade

sussurra ó vento opulento

tua insânia desvairada e perene

meu corpo permuta desejos

óh! Amor levo-te a flor

que aflora em meu nobre coração

os portos exalam abençoadas saudades

meu beijo corta a longínqua e fria solidão

ao encontro de tua face dourada

rósea face no albor da vida

rósea vida no albor da face

nada vejo no mar que engole-me a alma

somente a fome do meu desejo insano

teu corpo reduz-me a amargura

que vejo nessa triste figura de meu pensar

óh! Negra noite que permuta sonhos

sonoro vate no negro mar da noite negra

vai arauto pombo e leva minha mensagem

sou vate que te doa o poema e a alma

nesse prefácio de eterna demora

aqui estou no infindo mar

a mercê da consumível e infinda saudade

óh! Clamor que pulsa em meu peito

óh! Labor execrado e leso

meu corpo submerso em prantos

minha face gélida e saudosa

busca-te incessante sob a água turva

náufrago de pesada rosa convalescida

óh! torta e funesta saudade

que pesa em meu coração como pedra congregada

óh! Negra noite a tolher desejos

óh! Desejos a romper a noite

leva-me o beijo a doce e meiga amada

que espera-me ao albor da aurora

vai arauto em voo alto

com elã epopeico e vistoso

como uma fênix a ressuscitar das cinzas

como um elo a enlaçar desejos

como um facho a enlaçar amor

óh! Negra noite de efêmeros desejos

óh! Límpido etílico vasto e intercalado

óh! Noite negra que a nau consome

devora a saudade abundante e voraz

deixa tempo... deixa vida

num momento tão fugaz

vasta utopia, vasto lembrar

meu beijo viaja ante a névoa

para tua face rósea tocar...

Castro Antares
Enviado por Castro Antares em 28/07/2011
Código do texto: T3124590
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