Minhas relíquias

Revirando minha grande e velha gaveta,

Revendo meus guardados, fiquei surpreso

Com o que o tempo me deu para guardar.

Palavras soltas, letras perdidas,

Velhas e poeirentas poesias inacabadas,

Até um beijo, bem velhinho, sozinho,

Sentado no canto da gaveta, um beijo

Que havia esquecido de ter recebido.

Retratos, coitados, sem cor, roídos.

Sorrisos amarelados em rostos apagados.

Até aquela velha saudade de cabelos brancos

Dormindo comodamente sobre aquela história

Que ficou guardada sem que eu soubesse.

E as cartas? Cartas que nunca foram enviadas,

Tantas que se acotovelavam e até discutiam

Na esperança de que fosse manda-las,

Não entendiam que já estavam velhas.

Não que não tivessem mais sentido

Ficaram como registros de momentos

Que também envelheceram e nem aconteceram.

As recordações discutiam acirradamente

Cada uma querendo sem mais jovem que a outra

E como se não bastasse, a mais importante também.

E os sonhos?! Velhos e caducos sonhos

Misturando as histórias ou contando em pedaços

As tão já passadas emoções e sensações.

O que também me chamou a atenção

Foram duas lágrimas tão velhinhas

Que quase nem se punham mais de pé

Embora parecessem lúcidas, diziam contentes

Que eram remanescentes de um sorriso...

Um sorriso em que os olhos choraram.

E um velho soluço conversando com os ais

Da mesma idade, dizia: Coitadas estão caducando,

E eu fiquei sem saber se sorri realmente um dia .

Á! Minha grande e velha gaveta

Cheia de relíquias que o tempo não consome.

jose joao da cruz filho
Enviado por jose joao da cruz filho em 07/09/2011
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