A Sala

A mulher, ou talvez ainda menina, agora é frágil

Está no meio de sua sala construída a mão medrosa

Encontra-se num sofá que conforta-se nela, adormece dela mesma...

E seus pés teimam em fugir do taco frio como quem corre do calor já distante!

Usa alguns comprimidos, talvez pela semelhança, está comprimida...

Cataliza-se na cadeia das horas, na (de)cadência do ponteiro

E atônica observa o vaso e sua flor vermelha-morta sobre a mesa

Está a chorar, chora cada um dessas três letras - não - que não cabem ao coração

Pois as outras três - sim - não existiram para lhe entregar a felicidade

Então ela insiste em cerrar todas as janelas para o horizonte

Esquecendo que a porta nunca lhe será segura,

Pois o acaso é abusado, tem a chave!

E quando ela percebe, alguém invadiu, se instaurou!

E grita, tem medo, mas a força que tem o seu grito de expulsar

Vem da vontade que essa pessoa fique alí, ao seu lado!

Como é cômica natureza da sala, ela mudou de propósito,

Antes era para ninguém entrar

E agora é para uma pessoa, apenas uma, não sair...

Mas como tudo na vida, inclusive ela mesma, termina,

Logo a pessoa se foi pela mesma porta que entrou!

E suas lágrimas se juntam na sua aceitação do fim

Assim a sala foi destruída e, a não mais menina, a mulher se foi...

Agora anda por aí, pelas ruelas das dúvidas, pelas anti-vias da vida

Entende que a sala não lhe protegia, não lhe serve,

Não prendia ninguém a ela, só ela mesma...

E quando dois destinos quiserem se cruzar

Dão-se as mãos e andam no mesmo sentido

E quando for o dia, largam-se, bifurcam-se por aí

E no fim ela saiu da sua sala

Para o grande quarto da vida