Terreno santo

Encontramo-nos em terreno santo

Como santo é o sentimento que me move

Seus olhos pintados e borrados

Esboçavam o desespero de cor e estética

A lágrima encroada não sai

A palavra boa fica no titubeio

Entrego-lhe as coisas, o dinheiro

E a distância, pois estou gripada

E não quero lhe contaminar

Não quero contaminar-lhe com angústia,

Tristeza e solidão.

Mas todos nós estamos sozinhos no mundo

Todos nós diante da vida e da morte

Nos equilibramos

no estreito caminho do momento

Da efemeridade da passagem.

Não sei se meu tempo é hoje.

Talvez tudo aqui seja atemporal

Não sei se aqui é meu lugar

Talvez toda minha localização

seja apenas sideral

Não sei se ainda tenho memória,

Reflexos ou saudades

Pois minha vida interior é bem mais

Do que essa linha do horizonte

É bem menos contável que as nuvens

passadiças e vagas

Hoje é bem provável que chova

Hoje é bem possível que chore

Ou apenas ironize a dor com

alguma piada ou chiste

Só por hoje usei o método

Homeopático de sofrer

Bati a cota, e nos despedimos

Pronto, singelamente.

Enigmaticamente

Tive vontade de desencontrar

De perder novamente.

De rezar para nada

De confessar aos umbrais

Os desejos indizíveis

E recolher a última flor da primavera

Sentir o último vento do inverno

Recebe aos pés, a última folha de outono

Tudo faria para me curar

desse verão infectocontagioso.

Desse fastio de terreno santo e

de vida mortal.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/03/2012
Reeditado em 28/03/2012
Código do texto: T3580379
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