Amor de pedra
A hora chegou e bem depressa
Chegou a hora do adeus
De ver partir quem me concebeu
Aquela que um dia me gerou
E em seus braços me embalou
Não queria este dia
Que vem como favor
Para por fim a essa luta
Para por fim a tanta dor
Vejo-me à beira de um lago
Deixando ir uma canoa
Recoberta de flores
A adornar minha senhora
Àquela que me ensinou a viver
A ser gente como gente deve ser
A andar com coragem e cabeça erguida
A sonhar com o futuro e ser no mundo um luzeiro de paz
Vai partir àquela que se moldou por mim
Que manipulou o próprio ser para me ter
Vai partir uma autora, uma moçinha,
Uma menina, um bebê.
Vou levá-la à beira do lago
E dizer um último adeus
Vai tranquila minha matriz
Que tudo de ti está em mim
Serei fiel ao teu amor
Vou viver por teu favor
Para fazer valer o que em mim implantou
Sigo sem medo, sigo por teu amor.
Vou te ensinar aos meus filhos
Vão saber quem me educou
Vão saber quem foi capaz de se doar
De fazer de um sonho um senhor
A nossa vida foi homogênea
Vão existiu senão o nós
Fui você em mim e eu ti
Fomos um único ser sempre feliz
A marcha sem tua presença é difícil
Velaria o teu leito por todo meu existir
Zelaria por teu corpo, por tua respiração por tua alegria.
Sem cansaço, sem medo e sem desolação.
Mas a hora chegou
Vai levando as fibras do meu sorriso
Vais levando a metade do meu débito cardíaco
Vais levando duas das quatro estações
Fico no nublado da saudade
Fico com mãos vazias
Sem as tuas mãos
Fico com o olhar perdido
Porém caminho na trilha do teu querer
Vou semeando o que me fez saber
Acreditando que para isso me deixou
E adiantou-se lá no céu
Os dias de labuta
Os dias de ternura
Os dias de natal
Do ano novo
Cada esboço de vida em ti
Fez chorar, fez-me sorrir
Fez-me acreditar na tua cura
E esta fé nos trouxe até aqui
Adeus minha mãe querida
Me pariu com satisfação
Hoje vou parir este luto
Sem teus seios a me sustentar
A cada aurora vou chorar este dia
E viver para sempre uma anestesia
Um amor congelado
Até o dia de te reencontrar.