Nós e o rio

Ainda gravada na lembrança

está a figueira estendida sob o rio,

e a brisa a balançar as capituvas.

Como esvoaçavam teus cabelos loiros !

Parecia ouro brilhando a luz do sol matutino.

E o Martim-pescador que eu lembro,

voava zombeteiro sob as águas

tentando apanhar a sua presa,

faz-me lembrar que teus olhos verdes

que se confundiam com a relva,

aprisionaram de vez os meus sentidos.

E quantas vezes, nos passeios embarcados,

a exaustão tomou de todo os nossos ânimos,

e a areia branca nos esperando nas margens,

abrigou, abnegada, nossos corpos.

Tanta pureza enfeitou aqueles dias,

que a saudade hoje arranjou abrigo,

e se alojou neste peito que te relembra.

Certos motivos nos afastaram do rio,

outros motivos te afastaram de mim.

Sei onde estás mas não vou ao teu encontro.

Sabes de mim mas nem sequer me escreves.

Sabemos juntos do amor que nos unia,

mas não sabemos o porque do seu fracasso.

Nós e o rio, fomos felizes, isto passamos,

mas não passaram as lembranças, elas ficaram.