Saudosismo

Ao passar por esta viela

Recordo-me que já fora uma azinhaga

Que num lindo campo terminava

Mas hoje acaba em uma pequena praça

Que de praça não tem nada

Não tem flores, não tem arvores, não tem alma...

Apenas concreto em toda sua extensão

Um busto, uma placa imortalizando um cidadão.

Eternizando-o nas mentes dos que vem e vão

Não tem ninhos, nem passarinhos.

Nem uma brisa para refrescar

Quem no banco deseja se acomodar

E tudo isto faz relembrar-me

Das plantas que frutificavam neste lugar

Do Jamelão, a velha jabuticabeira,

Amoreira, goiabeira, mangueira...

Do menino que no campo saltitava sem parar

Trepando nas arvores feito macaco á imitar.

Tempo que a saudade quer resgatar

Mas o desenvolvimento destrutivo sepultou

E não só da praça tomou

Abriram ruas, avenidas, estradas...

Conjuntos, complexos, prédios ergueram-se.

E a cidade brotou, onde existia ás arvores, flores, passarinhos...

E a densa neblina expelida pelas chaminés

O beija-flor assustou

E para longe este voou

E nunca mais voltou

Tentei imitá-lo seguindo o seu rastro

Mas minhas asas ficam no coração

Se ficassem no dorso certamente partiria

Sem arvore para pousar pra que ficar

E acovardado fiquei

Acreditando que com a civilização

Imortal seria quando na praça

A última arvore pelo meu busto fosse substituída

Robert Jorge
Enviado por Robert Jorge em 16/02/2007
Reeditado em 16/02/2007
Código do texto: T383948