Saudosismo
Ao passar por esta viela
Recordo-me que já fora uma azinhaga
Que num lindo campo terminava
Mas hoje acaba em uma pequena praça
Que de praça não tem nada
Não tem flores, não tem arvores, não tem alma...
Apenas concreto em toda sua extensão
Um busto, uma placa imortalizando um cidadão.
Eternizando-o nas mentes dos que vem e vão
Não tem ninhos, nem passarinhos.
Nem uma brisa para refrescar
Quem no banco deseja se acomodar
E tudo isto faz relembrar-me
Das plantas que frutificavam neste lugar
Do Jamelão, a velha jabuticabeira,
Amoreira, goiabeira, mangueira...
Do menino que no campo saltitava sem parar
Trepando nas arvores feito macaco á imitar.
Tempo que a saudade quer resgatar
Mas o desenvolvimento destrutivo sepultou
E não só da praça tomou
Abriram ruas, avenidas, estradas...
Conjuntos, complexos, prédios ergueram-se.
E a cidade brotou, onde existia ás arvores, flores, passarinhos...
E a densa neblina expelida pelas chaminés
O beija-flor assustou
E para longe este voou
E nunca mais voltou
Tentei imitá-lo seguindo o seu rastro
Mas minhas asas ficam no coração
Se ficassem no dorso certamente partiria
Sem arvore para pousar pra que ficar
E acovardado fiquei
Acreditando que com a civilização
Imortal seria quando na praça
A última arvore pelo meu busto fosse substituída