Estações

Nas faces pardas

os olhares pardos já não brilham.

Talvez ainda mirem a terra que ficou

e a vida que se deixou.

São opacos, baços, pardos.

Três prostitutas idosas

desfilam sua inútil experiência

em vestidos de faillet azul.

Vestidos que voltarão intocados

aos armários em que habitam.

Os olhares pardos não os despiram,

tampouco lhes sorriram

as faces dos homens pardos.

Uma jovem opulenta

ostenta na canela pesada

tatuagens em ideogramas chineses,

quem lhe acompanha

toca um Sax inexistente

e a criança que levam

chora por todos os motivos.

Próximas da "Escada Rolante",

que como o Tempo devora o próprio passar,

falsas ciganas insistem em ler

as mãos vazias de ouro que querem

e surdas pragas acompanham

a moça que queria saber o Futuro.

Na plataforma, beijos

tentam evitar as ausências,

mas é em vão que os abraços

enlaçam os corpos,

pois todos se vão.

Pois todos ficam.

Resta apenas essa bruta vontade

de escrever um poema

e contar como dói

a distância.

Por Cristina,