POBRE POEMA

Eu queria te escrever um poema,

de rimas ricas onde o amor por tema,

na sutil forma métrica se ajustasse;

que fosse o arauto do esplendor da natureza,

qual mensageiro de celeste realeza,

e todo o bem do mundo retratasse...

Que a saudade se inserida, com certeza,

não fosse um canto de nostálgica tristeza

e nem a fúnebre revolta ressoasse;

mas ao contrário, em melodia harmoniosa,

qual sinfonia alvissareira, auspiciosa,

todo o esplendor da vida emoldurasse...

Que a amargura, essa eterna companheira,

fosse versada como a sombra passageira

e não marcasse com tamanha intensidade...

Que a tristeza de um imenso amor perdido,

soasse em notas de um cantar enternecido

e não vibrasse com as rimas da saudade...

Eu queria te escrever um poema,

de rimas ricas onde o amor por tema,

não me lembrasse a realidade desta dor...

Mas quem sou eu para fazer tal poesia,

se dentro d'alma desde o berço eu já trazia,

toda a amargura da saudade deste amor...

Nelson de Medeiros
Enviado por Nelson de Medeiros em 02/08/2005
Reeditado em 25/09/2006
Código do texto: T39746
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