FOLHAS MORTAS

Naturalmente alguém vai perguntar-me: -- O que têm as folhas secas caídas e rolando espaço afora com o que contas no soneto?

Responder-lhe-ei que elas já tiveram seus dias de glória e de penúria, agora se encaminham para o desaparecimento. Concomitantes são nossas vidas em nossa velhice... análogas, nos seus fins.

FOLHAS MORTAS

Ayres Koerig

Hoje já velho revendo o passado,

Frente a esta juventude do Recanto,

Meus olhos enchem-se de amargo pranto,

Ao querer relembrar o não lembrado.

Surge então um fantasma encapuzado,

Trazendo a tiracolo amargo encanto,

Aquela dor que me doía tanto,

Da qual hoje já estou acostumado.

Durante o meu viver fui bem teimoso

E do pensar sempre me fiz seu dono...

Mas quando não me sinto vitorioso,

Rolo na cama e perco até meu sono,

Sentindo em mim um proceder jocoso,

Tal folha a rolar num chão de outono!

Ayres Koerig
Enviado por Ayres Koerig em 14/11/2012
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