FOLHAS MORTAS
Naturalmente alguém vai perguntar-me: -- O que têm as folhas secas caídas e rolando espaço afora com o que contas no soneto?
Responder-lhe-ei que elas já tiveram seus dias de glória e de penúria, agora se encaminham para o desaparecimento. Concomitantes são nossas vidas em nossa velhice... análogas, nos seus fins.
FOLHAS MORTAS
Ayres Koerig
Hoje já velho revendo o passado,
Frente a esta juventude do Recanto,
Meus olhos enchem-se de amargo pranto,
Ao querer relembrar o não lembrado.
Surge então um fantasma encapuzado,
Trazendo a tiracolo amargo encanto,
Aquela dor que me doía tanto,
Da qual hoje já estou acostumado.
Durante o meu viver fui bem teimoso
E do pensar sempre me fiz seu dono...
Mas quando não me sinto vitorioso,
Rolo na cama e perco até meu sono,
Sentindo em mim um proceder jocoso,
Tal folha a rolar num chão de outono!