CONFIDÊNCIA DO EXPLOSIVENSE PARODIANDO DRUMMOND

Alguns anos morei no Explosivo

Principalmente vivi no Explosivo

(Muitos nasceram no Explosivo).

Mas não sou triste; um pouco orgulhoso, talvez: de ferro.

Ferro inalado e engolido da poeira vermelha, ferruginosa;

Da lama viscosa que surgia no tempo das águas.

Mas não sou só ferro.

Quarenta por cento de ferro na pele, no cabelo, no corpo...

Na alma, sessenta por cento de humanidade, sentimento, saudosismo...

E é esse saudosismo que me traz hoje aqui

De lá trouxe muitas boas recordações dos lugares que passei:

Da grande Cruz (o cruzeiro), marco da fé cristã que me convidava à oração;

Do saudoso Padre Zé Lopão: bravo incentivador de fé e defensor dos humildes;

Da missa no dia da mudança do nome da Vila que se tornou propriedade

Do Sagrado Coração de Jesus...

Da Mata de São José, sempre viçosa e verdejante lá pelas bandas do Cauê;

Dos Taquarais e bambuzais que abrigavam inhambus, rolinhas, tico-ticos...

Que atraiam a molecada com seus bodoques e munições catadas na biquinha.

Da biquinha, que no tempo da chuva, sangrava e vertia uma água deliciosa;

De onde também catavam-se musgos e enfeites para ornar os presépios;

Da areia branquinha tirada do areal, que lavava a sujeira cotidiana das panelas.

Da lagoinha, ponto de encontro dos meninos que ali nadavam nus;

Da pitangueira com seus deliciosos frutos; da “assombrada” boca da mina;

Da velha estrada da Jacutinga e dos caminhões da poderosa mineradora.

Do Brasileirinho; do Guarani; do São Lourenço e dos domingos de futebol.

“Tive ouro”. O Explosivo era ouro puro, puro ouro( implícito e explicito):

Ouro nas recônditas e subterrâneas minas com seus “saris” temerosos;

Ouro nas entranhas dos corações e das almas dos explosivenses;

Ouro nas relações amistosas e às vezes “explosivas” do seu povo.

O Explosivo agora é somente recordação e saudade.

É como disse o Poeta: apenas uma fotografia na parede.

Para mim, uma cratera no coração que ainda dói, uma dor...

Que hoje nos reúne para cantarmos a alegria de sermos explosivenses.

“Explosivo” era o nome de uma comunidade, uma vila operária construída pela Cia Vale do Rio Doce para abrigar seus operários no início de suas atividades em Itabira. Hoje “O Explosivo agora é somente recordação e saudades”

J.Mercês

28/11/2012

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 09/12/2012
Reeditado em 12/11/2014
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