Ame-o ou Deixe-o

Já foi assim.

Foi no tempo do "boi da cara preta",

no tempo em que calaram a retreta

e louvaram o "deus-baioneta".

Tu te lembras, guerreira?

Aonde tu vives agora

existem lembranças?

Eramos jovens. E ríamos.

Lembra-te do gosto bom

de Buarque-Poesia

e do amor que se fazia?

Eramos jovens. E vivíamos,

apesar da tortura,

apesar da Ditadura...

Mas, depois, guerreira,

tanto nos machucaram.

Violaram o teu corpo

e queimaram a nossa alma.

E até quiseram que o deixássemos.

E nós o amávamos tanto...

Lembras guerreira,

do sonho que insistia,

do corpo que resistia

e do "Lobo Carrasco" que te batia?

Então, um pedaço de mim

já não existia.

Tu, já não vivia...

Lembras,

do livro que eu escreveria,

das cores que tu pintaria,

do filho que o jardim pariria

e do novo Mundo que viria?

Mas, não veio a *utopia...

Lembras, guerreira?

Para Bete.

*da poética de Carlos Drummond de Andrade.