A Minha Inesquecível Avó Bárbara
A recordação é ténue, porém doce
das viagens inesquecíveis, a mais apetecível
da provável maldade, registo apagado.
E muitos anos depois ainda mora cá dentro
da saudade, do seu afecto
as lágrimas em queda livre
em direcção à sua memória
purificam
encimam a sua melancolia.
Se foi santa ainda não o sei
(quem disse que quero saber?)
como todos os seres belos, foi vilipendiada
como todos os seres puros facilmente enganada.
Como eu guardo as memórias de puro sentido
de brincar sozinho nas ruas largas, apesar do betão.
Como é bom sentir a tua mão doce, querida avó
o carinho intenso sempre anunciado
sempre concretizado
e depois adiado para sempre
sem aviso prévio.
E mesmo na nostalgia do abraço, permanente
da consequência na ternura para com o desconhecido
ainda sinto a influência do sorriso doce
da beleza encantada
por entre as rugas de cansaço
de uma vida de dor e sofrimento.
Adoro-te não te perdi
estás algures ai na Austrália
a vida nas voltas que deu, pôs-te sempre no meu caminho
a tua doce presença espiritual
sinto que vais renascer num qualquer ser glorioso,
que vais ser amada e o sofrimento vai passar ao lado.
Gostaria de reviver essa infância feliz
daqueles dias num apartamento normal, em silêncio
do teu amor profundo e desencantado.
Morro eu de saudades tuas
e nunca te pude dizer
o quanto ainda te amo
e hajam as mulheres que houverem
tu és parte do meu coração
apesar de teres partido sem aviso
sem eu saber o significado da tua partida
sem perceber o porquês de tanta infelicidade.
Amo-te avó Bárbara
sinto-te serena nas rugas do teu filho
na saudade gloriosa de quando me abraçavas
de quando me chamavas para casa
para junto de ti, do teu amor solene.
A recordação é profunda
demasiado importante
haja coração que aguente
alma que consinta
actos que permitam dar o amor ao desafio
de incomodar e sublimar
Amar-te-ei até à eternidade!