LEMBRANÇAS

É hora de dizer adeus

Aos mouros sonhos

Que tivemos juntos

Os quais fugidios esvaem - se

Nesse caquético tempo de lembranças.

É hora de desapegar -mo -nos

Das velhas filosofias de então,

Do amor eterno que da inocência fluia

E mergulhamos talvez na incursão

Da realidade nua e crua que nos faz sofrer.

É o momento exato de esmagarmos essa

Esperança boba, pura miragem do amor criança,

E busquemos cada um a sua estrada,

Cujos caminhos bifurcam em direções opostas

E a sede de afeto perdeu -se na distância.

Antagônicos fomos e não nego,

Não sei onde e quando caminhamos juntos,

No paradoxal encontro e outras eras.

Somos hoje o que jamais fomos um dia,

Na adversidade da vida, na ruptura do ser,

Nos desejos reprimidos, na solidão do querer.

E se busco você no silêncio do dia que amanhece

É por não conseguir desviá -lo de mim

Desse fogo ardente que meu corpo pede...

É hora de dizer adeus às pequeninas coisas

Que vivemos um dia, ao pouco que somos,

E ao muito que deixamos de ser,

Graças a esta vasta ignorância que

Ante as adversidades da vida conseguimos comungar...

- 30.12-93