As cores que ninguém vê

As letras negras de certos versos

a deslisar sobre o dorso alvo do papel

Papel que me espreita pálido e ávido a me revelar

pela grafia de letras e de facetas

que se escondem dentro de mim

As letras negras sobre o bréu da noite,

perante a lua branca, mesmo assim,

ninguém vê

poesias obscenas espreitam de pé rente à porta do infinito.

mas o poema simplesmente acaba,

menos a poesia

que sobrevive do amarelar das golhas no outono,

do verde suave do orvalho da manhã,

das pétalas coloridas da primaver,

do azul presumido do céu

E de repente, bem no meio de algumas linhas poéticas

salto direito do abismo

para alcançar uma alma solerte e dormente

que se prosta diante de mim

a inventar a forma, imersa em barro

e chama...

que brilha nos olhos a vividez

da vida.

despeço-me de todos solenemente

um adágio, um adeus, um aceno

todos os signos de um fim premeditado.

não se pode mais sentir o sentido das coisas,

pois as coisas perderam seus sentidos

em meio das

cores...

Então, o sol amarelo,

alaranjeia todas as tardes,

a sangrar um adeus,

Então, a manhã goteja lágrimas de orvalho

a se despedir

do seu amor- noite,

Então, a estrela do mar

acena delicadamente sobre a areia

para a sua estrela lá no céu ,

que num ímpeto se torna cadente,

e risca o céu,

num rabisco de promessa.

São cores que ninguém vê

São pessoas que ninguém vê

mas existem,

vivem, latejam

e morrem

sob nossa ignorância

O sol não nasce para todos.

As cores não aparecem para todos,

a luz só traz a visão,

à quem tem alma.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/03/2007
Código do texto: T409179
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