A Montanha

No topo da montanha fica a minha casa.

À beira-mar andei minha vida,

mas agora é tempo de voltar.

Talvez no caminho da Escola

eu ainda encontre o sorriso de Marilia,

o meu primeiro amor.

Talvez ainda escute o riso debochado de Maurício,

o primeiro amigo e a primeira confiança.

Talvez eu tema novamente

a dança dos Congos da Guiné e a dos Caiapós

que me aterrorizavam nas noites geladas

que um céu de Maio alaranjado prenunciava.

Talvez eu reencontre os vaqueiros que eram eu,

os índios apaches que habitavam meu corpo

nas toscas cabanas que o bambuzal me permitia.

Ou, então, as doces feras que eu, Jim da Montanha,

livrava dos caçadores, como assistia aos Domingos

nas Matinês do antigo Cine São Luis.

Talvez ainda viva a Quaresmeira

de onde colhi uma flor para à mãe,

pensando que voltaria a vê-la.

Talvez eu tanto reencontre

que acabe por encontrar

o que agora eu sou.

Compreenderei Zaratustra, o sábio da Montanha,

e vestido de nietzniano poder

saberei que ao fim do meu "fio esticado",

do ninho, nunca estive apartado.