Escutando os dedos

Na mansa noite,
que navega em silêncio,
o poeta escuta palavras
espargidas pela brisa.
Seus dedos inquietos
deixam vestígios reluzentes
de sentimentos incontidos,
formando imagens matizadas de amor.
A lua viandante
cobre-o com o véu da saudade
e passa diáfana.
E os dedos indiferentes revelam
os pensamentos calados
e os muitos sonhos e esperanças
desbotados por desilusões e obstáculos,
feridas que ainda sangram.
Os dedos insistentes prosseguem
e, sem vacilar, versam
sobre encontros e desencontros,
encantos e desencantos,
caminhos e pausas,
coerências e incoerências,
alegrias e sofrimentos,
colocando a nu, sua alma protegida.
E o poeta condoído
com o que lhe sopram os dedos,
petrifica-se no tempo suspenso.



Imagem: Google

Respeite os direitos autorais.