IGREJINHA
Ferviam, em minhas mãos,
As suas mãos imóveis e frias;
Ferviam as lágrimas de rouca emoção
Naquele dia!
Ferviam, como nunca antes,
As saudades de dias lindos
E de felizes instantes,
Então findos!
Os retratos da minha mãe querida,
Da mãe dos meus dias,
E das suas sorridentes alegrias
São também os retratos da minha vida!
No velório da minha mãe eu não estava sozinho,
Estava na sua presença ausente,
Na ausência do seu carinho,
E foi assim que descansou esse dia eternamente!
Entre os retratos que coleciono na lembrança,
Está o lenço branco que ela usava
Para enxugar as suas lágrimas de tristeza
Nas frias noites de pálidas incertezas
Em que, vez ou outra, eu mergulhava,
Descrente de mim mesmo, e sem esperança!
Está também a Bíblia Sagrada,
Que ela lia para mim
Quando eu era menino;
E me fazia crer que o amor não tem fim,
Que a vida é uma avenida iluminada,
E que Deus existe, e é benigno!
Na igrejinha onde o seu corpo foi velado,
Um coral luminoso de anjos entoava hinos;
No cofre da minha alma, eu mantenho guardados
O lenço branco, a Bíblia Sagrada e o badalar dos sinos!