Eu e a minha saudade

Juntei os pedaços que restaram de mim

Mudei a roupagem dos meus instintos

Dei cor à coragem que é carmesim

Fiz das minhas virtudes algo distinto

Mas da minha saudade ainda me sinto faminto

Fiz velhos conhecidos lembrarem-se de mim

Espalhei fotos antigas em todos os continentes

Lembrei de uma paixão que me fora pertinente

Num abismo de mim que rompeu no seu fim

Mas a minha saudade ainda é tão presente

Desisti do aconchego que um dia me foi ninho

Me livrei da dolência que roubava-me a calma

Quebrei o velho silêncio que me faz ser sozinho

Fiz muito barulho pra animar minh‘alma

Mas a minha saudade é que aponta o caminho

Apaguei a tormenta que me invade em pranto

Risquei todas as frases que no peito continha

Busquei no brejo da alma todo meu acalanto

E fiz um bota fora de todo o sentimento que tinha

Mas a saudade me cobre com seu eterno manto

Fiz de tudo que pude confesso não minto

Para de mim se esvair toda essa verdade

Se não me compete expelir, afugentar o que sinto

Convivendo eu vou à nefasta realidade

Resta-me então aceitar que de ti sinto muita saudade.